segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Nova Scotia Robots

Estou dez horas na fábrica. Os turnos foram extintos e o horário laboral passou a ser fixo. Para não perdermos o emprego, os sindicatos assinaram a proposta da direcção que incluía uma revisão das jornadas de trabalho. Uma situação que se pretende temporária. Chego antes, regresso sempre depois da hora. As dez horas não são passadas a trabalhar, provavelmente nem um quarto do tempo. Mas temos que manter-nos disponíveis para o caso dos clientes enviarem pedidos. Muitas vezes são os fornecedores que demoram as entregas de material. É desmotivador quando fazemos tudo o que é esperado e são os outros que falham.

Volto a casa destroçado. Não pelo trabalho realizado, que está reduzido ao mínimo, mas pelo facto das horas serem passadas em contínua espera, na cantina, à porta do edifício principal, nos corredores, nas oficinas, e não usamos máscara porque o pó está assente e não anda no ar. Mas respiramos o mesmo ar viciado. Em conversas de circunstância. Sempre sem novidade. Um tempo contrafeito.

Chego a casa vazio. A postura em que me deixo cair na cadeira é a postura em que fico até ao dia seguinte, como um molde de barro que alguém abandonou porque já não encontrou serventia, a manipulação condenada desde o princípio, fico sentado e durante horas nem considero levantar-me para fechar a janela. Fico ali sentado, encolhido, a gelar e a imaginar um dia sem tempos de espera. Um dia que não seja reactivo. Acordo noite dentro e aguardo que o sol nasça. Desejo que seja finalmente esse o dia do regresso à antiga rotina. Um dia inteiro na linha de montagem, com as pausas para limpar o suor, um dia sem incertezas, novamente uma máquina oleada que junta peças vezes sem conta; não perde a concentração e volta aos objectivos bem traçados.

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